sexta-feira, 30 de novembro de 2012

9


Acordo com meu telefone tocando e por um segundo sinto-me desorientada em meu próprio apartamento.
Então ouço a voz estridente de Sophia na minha secretaria eletrônica, insistindo que eu atenda, atenda, por favor, atenda. De repente, meu crime entra em foco. Sento rápido demais e meu apartamento gira. As costas de Arthur estão voltadas para mim, bem delineadas e com sardas esparsas. Dou uma cutucada nele com força.

Ele se vira e olha para mim.
— Ai, meu Deus! Que horas são?
Meu radio-relógio nos informa que são 7h15. Faz duas horas que tenho trinta anos. Correção — uma hora, nasci no fuso horário da região central do país.
Arthur sai rápido da cama catando suas roupas, que estão espalhadas pelo quarto. A secretária eletrônica emite dois bipes, interrompendo Sophia. Ela telefona de novo e fica o tempo todo falando sobre Arthur não ter voltado para casa. Mais uma vez, minha máquina a interrompe no meio de uma frase. Ela telefona uma terceira vez, gemendo:
— Acorda, vai, me telefona! Preciso de você!

Quando começo a me levantar, percebo que estou nua. Sento de novo e me cubro com um travesseiro.
— Oh, meu Deus. O que a gente faz? — minha voz está rouca e trêmula. — Será que eu devo atender? Dizer a ela que você dormiu aqui?..
—  não! Não atenda.. deixa eu pensar por uns segundos
Ele se senta, só de cueca, e esfrega o maxilar, agora coberto pelo sombreado de inicio de barba.
Um pavor doentio e capaz de me deixar sóbria se apodera de mim. Começo a chorar. O que nunca ajuda em nada.
— Olha só, Lua, não chora— diz Arthur. — Tudo vai acabar bem.
Ele veste o jeans e depois a camisa, puxa o zíper, enfia a camisa para dentro da calça e abotoa com eficiência, como se fosse uma manhã como outra qualquer. Em seguida verifica as mensagens no celular.
— Merda, 12 chamadas não atendidas — diz ele, sem parecer muito preocupado. Apenas seus olhos revelam uma certa ansiedade.
Depois de se vestir, Arthur senta de novo na beira da cama e apóia a testa sobre as mãos. Percebo que ele está respirando forte pelo nariz. O ar para dentro e para fora. Então ele olha para mim, recomposto.
—Certo. É isso que vai acontecer. Lua, olha para mim.
Obedeço às suas instruções, ainda agarrada ao travesseiro.
— Tudo vai ficar bem. Escuta só — explica Arthur, como se estivesse conversando com um cliente numa sala de reuniões.
— Estou ouvindo. —digo.
— Vou dizer a ela que fiquei na rua até mais ou menos cinco horas e depois fui tomar café com Micael. Pronto, ela não vai desconfiar de nada.
— O que eu falo para ela? — quero saber. Mentir nunca foi o meu forte.
— Diga apenas que você saiu da festa e veio para casa... Diga que você não consegue se lembrar com certeza se eu ainda estava lá quando você saiu, mas que você acha que eu ainda estava lá com o Micael. E não deixe de dizer que você "acha"... não seja tão taxativa. E isso é tudo o que você sabe, certo? - ele aponta para o meu telefone. - Liga de volta para ela, agora ... vou ligar para o Micael assim que sair daqui. Entendeu?
Balanço afirmativamente a cabeça, meus olhos se enchendo de lágrimas novamente, enquanto ele se levanta.
- E fique calma - diz ele, sem maldade, mas com firmeza. E logo ele já está na porta, uma das mãos na maçaneta, a outra percorrendo o cabelo escuro, longo o suficiente para ser sexy.
- E se ela já tiver falado com o Micael? - pergunto quando Arthur já está no meio do corredor. Depois digo para mim mesma: - Estamos muito ferrados.
Ele se vira e olha pra mim do corredor. Por um segundo acho que está bravo, que vai gritar comigo para que eu me controle. Que isso não é uma questão de vida ou morte. Mas o tom dele é delicado.
- Rach, nós não estamos ferrados. Já resolvi tudo. Você apenas fala o que eu disse para você falar... E ... Lua?
- O quê?
- Sinto muito.
- É - respondo - Eu também.
Será que estamos falando um com outro ... ou com Sophia?
Logo que Arthur vai embora, vou para o telefone, ainda me sentido tonta. Demoro alguns minutos, mas finalmente crio coragem para ligar para Sophia.
Ela está histérica.
- O filho-da-mãe não veio para casa ontem à noite! É melhor que ele esteja deitado na cama de um hospital!... Você acha que ele me traiu?
Começo a dizer que não, que provavelmente ele apenas saiu com Micael, mas penso melhor. Isso não pareceria óbvio demais? Será que eu diria isso se não soubesse de nada? Não consigo pensar. Minha cabeça está estourando e meu coração batendo forte. De tempos em tempos o quarto volta a girar.
- Tenho certeza de que ele não estava traindo você.
Ela assoa o nariz.
- Por que você tem tanta certeza?
- Porque ele não faria isso com você, Darce.
Não consigo acreditar nas minhas palavras, na facilidade com que elas saem.
- Bem, então onde é que ele está, porra? Os bares fecham lá pelas quatro, cinco horas. Porra são 7h30.
- Eu não sei ... mas tenho certeza de que existe uma explicação lógica.
O que de fato existe.
Ela me pergunta a que horas eu fui embora, se ele ainda estava lá e com quem estava - exatamente as perguntas para as quais Arthur me havia preparado. Respondo com cuidado, como fora instruída. Sugiro que ela telefone a Micael.
- Já telefonei - diz ela. E aquele imbecil não atendeu o maldito celular.
Sim. Nós temos uma chance.
Ouço um clique de uma ligação na espera e Sophia desaparece, depois volta, dizendo que é o Arthur e que ela vai me telefonar assim que puder.
 Levanto e ando cambaleante até o banheiro. Olho no espelho. Minha pela está toda manchada, avermelhada. Meus olhos estão com rodelas de rímel e lápis de maquiagem e ardem porque dormi com as lentes de contato. Tiro as lentes rapidamente, segundos antes de ter ânsias de vômito sobre a privada. Não vomito por causa da bebida desde os tempos de faculdade, e mesmo assim isso só aconteceu uma vez. Porque aprendo com os meus erros. A maior parte das pessoas na faculdade diz: "Nunca mais vou fazer isso". Então fazem de novo no fim de semana seguinte. Mas eu mantenho a palavra. É assim que sou. Vou aprender com essa também. Deixa só eu me safar dessa.

Um comentário:

  1. QUERO LHE DESEJAR UM FELIZ ANO NOVO CHEIO DE PAZ , SAÚDE , E PROSPERIDADE PARA VOCÊ E SUA FAMÍLIA E AMIGOS E QUE VOCÊ CONTINUE A POSTAR WEBS MARAVILHOSAS O ANO DE 2013 , 2014 , 2015, ...... E POR DIANTE. Bjs.

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