sexta-feira, 30 de novembro de 2012

7


— Roubando a cena na sua festa — cochicha comigo Mel, minha melhor amiga do trabalho. — Ela não tem vergonha.
Eu rio.
— É, isso é a cara dela.
Sophia solta uns gritinhos, bate palmas com os braços para o alto e me convoca com uma expressão sedutora que agradaria qualquer homem que já tenha alguma vez fantasiado com mulheres interagindo com mulheres.
— Lua, Lua, vem pra cá!

É claro que ela sabe que eu não vou me juntar a ela. Jamais dancei em cima de um bar. Não saberia o que fazer lá em cima, a não ser cair. Balanço a cabeça e rio, uma recusa educada. Ficamos todos aguardando a próxima jogada, que consiste em girar os quadris exatamente no ritmo da música, ir se inclinando aos poucos e depois voltar bruscamente para endireitar o corpo, o cabelo se esparramando para todos os lados. A flexibilidade da manobra me faz lembrar de sua imitação perfeita de Tawny Kitaen no clipe de “Here I Go Again”, do Whitesnake, da maneira como ela rodopiava e fazia spaccati no capô do BMW do pai dela, para deleite dos adolescentes da vizinhança. Olho para Arthur, que nesses momentos nunca sabe se acha divertido ou se fica irritado. Dizer que o cara é paciente é pouco. Arthur e eu temos isso em comum.

— Feliz aniversário, Lua! — grita Sophia. — Vamos todos fazer um brinde à Lua!
E é o que todos fazem. Sem desgrudar os olhos dela.
Um minuto depois, Arthur tira Sophia do bar, suspendendo-a em seus ombros e devolvendo-a ao chão, ao meu lado, num movimento contínuo. Com certeza ele já fez isso outras vezes.
— Está bem — anuncia ele. — Vou levar nossa pequena organizadora de festas para casa.
Sophia apanha sua bebida e bate o pé.
— Você não manda em mim, Arthur! Não é, Lua?
Enquanto afirma sua independência, Sophia tropeça e derrama todo o martíni no sapato de Arthur. Ele faz uma cara feia.
— Você está bêbada, Darce. Ninguém está achando a menor graça, só você.
— Tudo bem, tudo bem. Eu vou embora... Estou mesmo me sentindo meio mal — diz ela, parecendo enjoada.
— Você vai ficar bem?
— Vou ficar numa boa, não se preocupe — responde, agora fazendo o papel da menininha doente e corajosa..
      
Agradeço Sophia pela festa, digo que foi uma completa surpresa — o que é uma mentira, porque sabia que ela tiraria vantagens do meu trigésimo aniversário para comprar um vestido novo, dar um festão e convidar tantos amigos dela quanto meus. Ainda assim, foi legal da parte dela ter organizado a festa e estou satisfeita de que tenha feito isso. Sophia é o tipo de amiga que sempre faz as coisas parecerem especiais. Ela me dá um abraço apertado, diz que seria capaz de fazer qualquer coisa por mim e pergunta o que seria dela sem mim, sua madrinha número um, a irmã que ela nunca teve. Ela está bastante efusiva, como sempre fica quando bebe demais.
Arthur a interrompe.

— Feliz aniversário, Lua. A gente se fala amanhã.
Ele me dá um beijo no rosto.
— Obrigada, Arthur — digo. — Boa noite.
Fico observando enquanto ele a conduz para fora, segurando-a pelo cotovelo depois que ela quase tropeça no meio-fio. Oh, ter um guarda costas como este. Poder beber sem a menor preocupação, sabendo que haverá alguém para levar você em segurança para casa. Algum tempo depois, Arthur reaparece no bar.

— Sophia perdeu a bolsa. Ela acha que deixou por aqui. É pequena, prateada — diz. — Vocês viram por aí?
— Ela perdeu a bolsa Chanel dela?

Balanço a cabeça e rio, porque perder as coisas é a cara da Sophia. Em geral tomo conta das coisas dela, mas no meu aniversário não estou a serviço. Ainda assim, ajudo Arthur a procurar a bolsa, encontrando-a, afinal, embaixo de um dos bancos do bar.
Quando ele já está de saída, Micael, um amigo de Arthur, um de seus padrinhos de casamento, o convence a ficar.

— Ah, vai, cara. Fica mais um pouco aí.
Então Arthur liga para Sophia em casa e ela balbucia seu consentimento, diz a ele para se divertir sem ela. Embora provavelmente esteja convencida de que tal coisa não seja possível.

Aos poucos meus amigos vão indo embora, ainda me desejando parabéns. Arthur e eu somos os últimos, até mesmo Micael já foi. Sentamos no bar puxando conversa com o ator/barman que tem um “Amy” tatuado e interesse zero numa advogada que está envelhecendo. Já passa das duas quando decidimos que está na hora de ir embora. A noite está mais para meados de verão do que para primavera e, de repente, o ar quente me enche de esperanças: Este vai ser o verão em que vou encontrar o homem da minha vida.
Arthur chama um táxi para mim, mas, quando o carro pára, ele diz:

— Que tal irmos para um outro bar? Quer tomar mais um drinque?
— Tudo bem — respondo. — Por que não?

Entramos no carro e ele diz ao motorista para ir dirigindo, que ele ainda tem de pensar em qual vai ser a próxima parada. Acabamos em Alphabet City, num bar que fica na esquina da Sétima Avenida com a Avenida B, apropriadamente chamado 7B.
Não é um cenário muito pra cima — o 7B é meio sombrio e enfumaçado. De qualquer forma, gosto dali — não é pretensioso e tampouco uma espelunca se esforçando para ser bacana justamente por não ser pretensiosa.
Arthur aponta na direção de uma mesa que fica entre dois bancos altos.

— Senta aí. Eu já venho.
Ele se vira.
— O que eu trago pra você?
Digo que vou querer o mesmo que ele, sento e fico esperando na mesa. Percebo que ele diz alguma coisa para uma garota que está no bar, vestida com uma calça verde-oliva cheia de bolsos grandes e uma camiseta bem justa onde se lê “Anjo Caído”. Ela sorri e balança a cabeça. “Omaha” está tocando ao fundo. É uma daquelas músicas que parecem melancólicas e alegres ao mesmo tempo.
Alguns momentos depois, Arthur desliza pelo banco à minha frente e empurra uma cerveja na minha direção.
— Newcastle — diz ele. Então sorri— Você gosta?

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