sexta-feira, 30 de novembro de 2012

8


Faço que sim com a cabeça e sorrio.
De soslaio, vejo Anjo Caído girar em seu banco de bar e dar uma olhada em Arthur, absorvendo seus traços bem desenhados, o cabelo ondulado e os lábios carnudos. Uma vez Sophia reclamou que Arthur provocava mais olhares e viradas de cabeça do que ela. Entretanto, ao contrário de sua parceira do sexo oposto, Arthur parece não perceber a atenção. Anjo Caído agora olha em minha direção, provavelmente imaginando o que Arthur está fazendo comigo.
Espero que ela pense que somos um casal. Hoje à noite ninguém precisa saber que sou apenas coadjuvante na festa de casamento.
Arthur e eu conversamos sobre nossos trabalhos, sobre a casa que vamos dividir em Hamptons a partir da próxima semana e sobre muitas outras coisas. Mas o nome de Sophia não é mencionado, nem o casamento deles em setembro.
Depois que terminamos nossa cerveja vamos até a jukebox, enchemos a máquina com dólares, em busca de músicas boas. Aperto duas vezes o código para “Thunder Road” porque essa é minha música favorita. Digo isso a ele.
— É, Bruce Springsteen também está no topo da minha lista. Você já viu algum show dele?
— Já — respondo. — Duas vezes.

Quase digo a ele que fui com a Sophia nos tempos da escola, que a arrastei comigo embora ela preferisse bandas como Poison e Bon Jovi. Mas não menciono isso. Porque do contrário ele vai se lembrar de voltar para casa para encontrá-la e eu não quero ficar sozinha nos últimos momentos dos meus vinte anos. Obviamente, preferia estar com um namorado, mas Arthur é melhor do que nada.
No 7B os garçons estão atendendo aos últimos pedidos da noite. Pegamos mais algumas cervejas e voltamos para a mesa. Algum tempo depois entramos novamente num táxi, indo em direção ao norte pela Primeira Avenida.
— Duas paradas — avisa Arthur ao motorista, porque moramos em lados opostos do Central Park.
Arthur está segurando a bolsa Chanel de Sophia, que fica pequena e deslocada em sua mão enorme. Olho para o mostrador prateado do Rolex dele, um presente de Sophia. Falta pouco para as quatro horas.
Ficamos em silêncio por uns dez ou 15 quarteirões, ambos olhando para fora de nossas respectivas janelas, até que o carro passa por um buraco e me vejo lançada para o meio do banco traseiro, minha perna roçando a dele. Então, de repente, do nada, Arthur está me beijando. Ou talvez eu esteja beijando Arthur. Não sei como, estamos nos beijando. Minha cabeça fica leve enquanto ouço o suave som dos nossos lábios se encontrando repetidas vezes. A certa altura, Arthur, entre um beijo e outro, diz ao motorista que no fim das contas vai ser apenas uma parada.
Chegamos na esquina da 73 com a Terceira Avenida, perto do meu apartamento. Arthur entrega uma nota de vinte para o motorista e não espera pelo troco. Saltamos do táxi, nos beijamos mais na calçada e então na frente de José, meu porteiro. Enquanto subimos, nos beijamos o tempo todo. Estou imprensada contra a parede do elevador, minhas mãos em sua nuca. Fico surpresa ao sentir a maciez do cabelo dele.

Luto com as chaves, girando para o lado errado da fechadura, enquanto Arthur mantém o braço em torno da minha cintura, seus lábios no meu pescoço e na lateral do meu rosto. Finalmente a porta se abre, e estamos nos beijando no meio do meu apartamento.. Vamos cambaleando até minha cama, e ele pergunta:
— Você está bêbada? — A voz dele é um sussurro no escuro.
—Não — respondo.

Porque sempre se diz que não se está bêbado. E embora eu esteja tenho um momento de lucidez quando considero exatamente o que estava faltando nos meus vinte anos e o que desejo encontrar a partir dos meus trinta. Fico impressionada ao ver que, de certa forma, posso ter ambas as coisas nesta importante noite de aniversario. Arthur pode ser meu segredo, minha ultima chance para um capitulo oculto nos meus vinte anos, e também uma espécie de prelúdio — uma promessa de que alguém como ele possa aparecer. Sophia surge no meu pensamento, mas esta sendo empurrada lá para trás, encoberta por uma força mais forte do que nossa amizade e do que a minha própria consciência. Arthur se movimenta sobre mim. Meus olhos estão fechados, então abertos, depois fechados novamente.
E então, não sei como, estou na cama com o noivo da minha melhor amiga.

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