sexta-feira, 30 de novembro de 2012

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De repente me ocorre que eu poderia me ajeitar com o barman. Estou totalmente desimpedida — nem ao menos saí com alguém nos últimos dois meses. Mas não me parece uma coisa que alguém devesse fazer aos trinta. Viver uma aventura de uma noite é para meninas que estão na casa dos vinte. Não que naquela época eu soubesse disso. Meu caminho sempre foi o do bom comportamento, o de uma pessoa certinha, sem desvios. Tirava dez em tudo na escola, entrei para o segundo grau, me formei com grandes honras, fiz a prova para entrar no curso de Direito, fui direto para a faculdade e depois para um grande escritório de advocacia. Nada de sair pela Europa de mochila, nada de histórias malucas, nada de paixões doentias ou tórridas. Nada de segredos. Nada de intrigas. E agora parece que é tarde demais para qualquer coisa do tipo. Porque esse negócio apenas retardaria ainda mais os meus planos de encontrar um marido, de me estabelecer, ter filhos e um lar feliz...
   
Sendo assim, fico apreensiva a respeito do futuro e, de certa forma, arrependida em relação ao passado. Digo a mim mesma que haverá tempo de ponderar a questão amanhã. Neste exato momento vou me divertir. É o tipo de coisa que uma pessoa disciplinada pode simplesmente decidir. E sou extremamente disciplinada — o tipo de criança que fazia o dever de casa na sexta-feira à tarde, logo depois da escola, o tipo de mulher (já que a partir de amanhã não restará mais nada de menina em mim) que passa fio dental todas as noites e que faz a cama todas as manhãs.
Sophia volta com as bebidas, mas Arthur recusa a dele, então ela insiste que eu fique com duas. Antes que eu perceba, a noite começa a adquirir aquela nebulosidade, entra naquele estágio em que você passa da condição de alegre para a de bêbada, perdendo a noção do tempo e da ordem exata das coisas. Pelo jeito, Sophia atingiu esse estado até antes de mim, porque neste exato momento ela está dançando sobre o bar, rodopiando e serpenteando num minúsculo vestido...

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