sexta-feira, 30 de novembro de 2012

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Então cheguei aos meus vinte anos. E os primeiros anos dessa década realmente pareceram intermináveis. Quando ouvia pessoas que eu conhecia e que eram um pouco mais velhas do que eu lamentando o fim da juventude, eu ficava toda prosa, não me sentia ainda na zona de perigo. Tinha tempo de sobra. Até que cheguei aos 27, quando os dias de ter de apresentar carteira de identidade para provar a idade se tornaram coisa do passado e quando comecei a ficar impressionada com a repentina aceleração dos anos, e com as conseqüentes rugas e os primeiros cabelos brancos (nessa época sempre me lembrava dos monólogos anuais da minha mãe enquanto tirava do armário os enfeites de Natal). Aos 29, um verdadeiro pavor se instalou, e eu me dei conta de que de certo modo era como se eu já tivesse trinta. Mas nem tanto. Porque ainda poderia continuar dizendo que tinha vinte e poucos. Ainda tinha algo em comum com estudantes universitários em vias de se formar.

Descobri que trinta era apenas um número, que a gente tem a idade que sente que tem e tudo o mais. Também me dei conta de que, sob um ponto de vista mais abrangente, uma pessoa de trinta ainda é jovem. Mas não tão jovem. Está longe, por exemplo, da idade mais adequada para se ter filhos. É tarde demais para, digamos, começar a treinar para ganhar uma medalha olímpica. Mesmo considerando-se a hipótese de morrer em idade avançada, ainda assim a gente está a um terço do caminho para cruzar a linha de chegada. Por isso, não consigo evitar uma certa inquietação ao me sentar num sofá marrom-avermelhado bem fofo, numa sala escura no Upper West Side, na minha festa-surpresa de aniversário organizada pela Sophia, que ainda é minha melhor amiga.
Amanhã é o domingo que contemplei pela primeira vez quando era uma aluna de 5ª série, brincando com a agenda. Depois de hoje à noite, os meus vinte anos vão ter se acabado, serão um capítulo fechado para sempre. A sensação que eu tenho me faz lembrar das noites de Ano-Novo, quando a contagem regressiva começa e eu fico na dúvida entre pegar minha câmera ou apenas viver o momento. Geralmente pego a câmera e mais tarde me arrependo quando a foto não sai. Então fico extremamente frustrada e penso comigo mesma que a noite teria sido mais divertida se não significasse tanto, se eu não fosse forçada a analisar onde estivera até aquele momento e para onde estava indo.

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